Portugal precisa de si

O português, espécie conhecida, entre outras coisas, pela sua desonestidade gritante, está a amolecer a olhos vistos. Longe vão os tempos em que víamos uma nota cair do bolso de alguém e ficávamos com ela; ou quando alguém remexia na carteira no meio da rua e caíam dezenas de moedas, e nós pisávamos uma ou duas (tentando pisar sempre as de maior valor, claro); ou quando víamos uns óculos de sol abandonados numa mesa de um restaurante, e num ápice já estavam no nosso bolso. Esses dias felizes estão a acabar.

Então não é que que agora quando alguém encontra uma mochila ou um embrulho no metro, alerta imediatamente as autoridades! Mas o que é isto?! E abarbatar o embrulho e enfiá-lo debaixo do casaco, como nos velhos tempos? E pôr a mochila a tiracolo, como se fosse nossa há anos e anos? "Ah, mas pareceu-me suspeito..." Suspeito? Suspeito é não deitar a mão ao que não é nosso, isso sim é muito suspeito!

Que há por aí muita malandragem que não tenha estofo para preservar a tradição portuguesa, eu ainda admito; mas que esses indivíduos de baixa índole queiram conspurcar o modo de vida que mantemos há séculos, já não me parece bem. Não quer ficar com o que não lhe pertence? Sim senhor, está no seu direito. Mas prejudicar os puros de espírito, que não têm qualquer pejo em deitar a unha ao alheio, está errado.

Portanto, quando da próxima vez vir algum objecto estranho abandonado, não chame a polícia. Lembre-se que há pessoas que podem querer esse mesmo objecto. Ajude a preservar a nossa identidade, se não qualquer dia ninguém passa rasteiras aos cegos.

Pastel estragado

Recomendo à ASAE que se desloque ao estádio do Restelo. Parece que há lá um pastel impróprio para consumo.

Fumo branco

Noite. Um café algures em Lisboa. Agito-me desconfortável na cadeira. Falta algo. Olho em meu redor, algo desorientado. Onde está a vermelhidão dos olhos? A tosse incomodativa que ataca a garganta? O fumo que quase sufoca? O fedor que se impregna nas roupas e no cabelo? O vizinho do lado a perguntar se tenho lume? Eu a responder que não, e que também não tenho fogo?

Falta mesmo algo.

Troca fedorenta

Ao que parece, em meados de Novembro os Gato Fedorento apresentaram uma proposta de renovação do seu contrato à Rtp. Nuno Santos, ainda director do canal público, recusou.
Na altura achei estranho, não me parecia muito inteligente a Rtp não assegurar rapidamente a manutenção de um dos seus principais trunfos.
Curiosamente (ou se calhar não), é o mesmo Nuno Santos que, depois de ter trocado a Rtp pela Sic, os resgata agora para o canal privado.

Isto faz lembrar a época de transferências no futebol. Muito dinheiro a circular, acompanhado de um estranho cheiro a peixe podre.