Thursday, May 17, 2007

O bem querido

Corria o ano de 1994. O Benfica, já campeão, ia cumprir o último jogo do campeonato no velhinho estádio do Bessa. Antes do jogo terminar, os adeptos benfiquistas invadem o relvado. Resultado: vitória do Boavista por 3-0 na secretaria. Houve ainda pancadaria à porta do estádio devido à presença de elementos da claque portista.

Corria o ano de 2005. O Benfica, a precisar de apenas um ponto para se sagrar campeão, ia cumprir o último jogo do campeonato no novo estádio do Bessa. Os adeptos, depois de se andar uma semana inteira a falar em processos judiciais a quem invadisse o campo (mesmo depois do jogo acabar) e de eventual perda de pontos na secretaria, não ousaram pôr um pé no relvado. Nem mesmo depois do jogo acabar (as inúmeras imagens televisas colhidas no local, confirmam-no). Os adeptos foram assim privados de fazer a festa com os seus atletas. Como se não bastasse, a claque Super Dragões lembrou-se de "festejar o final da época e o acesso directo à Champions", segundo os próprios, no preciso local onde os benfiquistas da cidade do Porto costumam festejar os títulos. Não correu bem...

Corria o ano de 2006. O F.C. Porto, a apenas uma vitória do título, estava de visita a Penafiel. Antes do jogo terminar, os adeptos invadem o relvado. Resultado: o árbitro manda todos os intervenientes aguardarem no túnel, enquanto a ordem é restabelecida. A televisão mostra-nos imagens de alegre confraternização entre os jogadores das duas equipas. Ups, das duas não, das três. Alguns jogadores portistas abraçam-se mesmo ao juiz da partida, levando o inenarrável Valdemar Duarte a proferir uma das mais belas frases que já ouvi em directo: "Helton abraçado ao árbitro. Isto é muito bonito!"
O jogo acabou sem mais problemas, com a vitória do F.C. Porto. Os adeptos portistas que vivem em Lisboa festejaram o título nos locais habituais, Marquês, Avenida da República, etc. Não houve registo de desacatos.

Corre o ano de 2007. O F.C. Porto, a precisar de vencer para se sagrar campeão, vai receber o Aves. Alguém ouviu falar em ameaças de processos judiciais a quem invadir o relvado antes, durante ou depois do jogo terminar? Eu não. Alguém ouviu, sequer num sussurro medroso, a hipótese de o F.C. Porto perder o jogo por 3-0 na secretaria, caso haja invasão? Eu não. Alguém sabe se está marcada alguma concentração das claques de Benfica ou Sporting para festejar o final da época? Eu não.

Mas será mesmo que não há ninguém da parte do F.C. Porto preocupado com uma eventual invasão de campo? Espera lá, parece que há...

«É caso para ser tratado também pelas autoridades. Temos que saber entender esses fenómenos com naturalidade. Não será nada fácil para as forças de segurança susterem o ímpeto de milhares e milhares de adeptos que eventualmente queiram fazer a festa no relvado. É uma questão que a equipa de arbitragem terá de concertar com as forças de segurança, teremos de cumprir o plano de segurança que será decerto montado para evitar a entrada dos adeptos antes que os intervenientes no jogo estejam fora do relvado. Na reunião preparatória do jogo será um dos assuntos a abordar e cumpriremos escrupulosamente aquilo que as forças de segurança nos disserem para fazer», declarou Olegário Benquerença esta manhã à TSF.

Ai se estas declarações viessem de um árbitro antes de um jogo do Benfica...

P.S. Ó Olegário, não te esqueças de levar a concertina e de pedir o chapéu emprestado ao primo Quim. Parece que a festa vai ser de arromba!