Thursday, October 19, 2006

O politólogo

Ah, Nuno Rogeiro! Como eu me lembro de ser ainda bem pequenito e aguardar sempre com grande ansiedade e excitação os "especiais informação" na televisão, onde tu aparecias com ares de grande entendido na matéria e nos mostravas as últimas novidades em material bélico norte-americano. Estávamos em plena Guerra do Golfo, lembras-te?

Eu, um garoto a olhar para a televisão, e tu, um homem feito, um verdadeiro animal de estúdio. Estúdio esse que dominavas por completo; era o teu pequeno feudo e tu eras o Senhor da Guerra. Enquanto eu e os meus amigos nos contentávamos em brincar às guerras com legos e playmobis, tu já brincavas com miniaturas dos aparelhos usados no Golfo. Tanques, aviões, navios, submarinos, tu tinhas tudo, meu patife! Eu tinha cavalinhos, índios e cowboys.

Lembras-te quando deste a conhecer, em exclusivo, aos portugueses a miniatura do novíssimo F117 Nighthawk? Parecias um miúdo, os teus olhos brilhavam! Tal como brilharam os meus quando recebi o Barco Pirata da Playmobil...

Mas porque raio estou eu a escrever isto, perguntas tu. Deixa-me explicar-te...

Nessa altura chamavam-te muita coisa, recordas-te? Analista, comentador, especialista em geoestratégia, etc, etc, etc. Acontece que, outro dia, ao folhear uma revista onde tu assinas uma bonita crónica, me deparei com um novo epíteto que alguém te deu (ou, quem sabe, não foste tu próprio): politólogo.

O que é um politólogo, Nuno? Como se chega até aí? Fizeste algum exame? Ou achas que é, talvez, um dom? E isso vai passar para os teus descendentes, ou morrerá contigo? Quando tiveres um tempo livre, diz-me qualquer coisa, por favor. Só a tua infinita sapiência me poderá esclarecer.

É que este menino que cresceu a ver-te, que ouviu os mais díspares nomes serem chamados à tua pessoa, sempre te conhecerá por um só: imbecil.