Thursday, September 14, 2006

As lojistas

Há muito tempo que tinha esta ideia, mas de uma maneira ou outra, ainda não a tinha baptizado. Só há pouco tempo, à conversa com um amigo (durante uma breve apreciação nocturna a esta espécie) é que dei o devido baptismo."Mas o quê?", perguntam vocês.
As lojistas!É uma espécie que deambula subtilmente por entre os comuns mortais (tal como nós) mas que se regem e se cingem por objectivos diferentes dos nossos.Normalmente têm idades compreendidas entre os 18 (idade legal para começar a laborar) até (em casos muito crónicos) aos 35-40 anos. Maioritariamente provêm dos subúrbios ou mesmo dos arredores das grandes cidades.
No início começam só a trabalhar nas lojinhas em part-time, para não dependerem exclusivamente da parca mesada de pais da classe trabalhadora, mas rapidamente começam a gostar do sabor do “guito” e dos pseudo-luxos que ele traz (iludindo-as a ascender a um status superior ao real). Nesse momento é que se dá a emancipação de uma simples rapariguinha suburbana para uma verdadeira lojista de shopping. Uma das transformações que a lojista sofre é a passagem de um simples part-time para um full-time, retirando a prioridade à prossecução dos estudos ou pondo-os de parte por completo, para a dedicação total à vida de logista.
E é aí que começam os esquemas, peripécias e as manhas em torno do seu principal objectivo:A caça de um gajo com dinheiro, pura e simplesmente.
Esse objectivo é levado muito a sério pela lojista, pois a presa em questão poderá equivaler-lhe a 5 números e 2 estrelas correctas num bilhete do Euromilhões.Devido ao seu horário laboral, a lojista só pode “caçar” ao fim-de-semana ou nas vésperas de folgas. A lojista nunca chega atrasada nem tão pouco falta a um dia de trabalho, pois não se pode dar ao luxo de perder dinheiro para os seus principais gastos: bijutaria, roupinhas da moda, telemóveis da ultima geração (que trazem incorporados um conjunto de novas funções espectaculares mas que ela ainda não sabe bem para o que é que servem), óculos de sol “fashion”, aliás, à futebolista, etc….
Regra geral, o seu território de caça situa-se nas discotecas ou pubs pseudo-“in”, isto é, “da moda”. É nesses locais que também deambulam as suas presas. O seu primordial “target” são os meninos bem. Os meninos bem trazem como garantia o dinheiro e nome dos pais, algo que a lojista deseja ardentemente. Mas a lojista tem tanto de gananciosa como de estúpida, pois normalmente os meninos bem ou são menaços pé-rapados (disfarçados de meninos bem) ou são, de facto, meninos bem (mas nada otários). Nisto os menaços pé-rapados são muito parecidos com as lojistas, dão ares daquilo que não são. No fundo, no fundo, os menaços pé-rapados querem é copular desalmadamente. O menino bem lá manda a dele para não ficar com a fama de que é homossexual, pois a lojista não aceita uma nega e é venenosamente vingativa (pondo na lama quem prejudicar os seus planos).
Quando a lojista encontra estas duas estirpes, os planos normalmente saem-lhe furados, porque depois de uma noite de discoteca animada e prometedora, levando a uma rapidinha no melhor sítio que se puder arranjar, a lojista, no final, só leva em troca: “Não me telefones, eu depois ligo-te”. Aí, ou ela persegue o menino bem (quando o é na realidade) até à exaustão, chegando a pontos de total perca de amor-próprio e imaturidade ou tenta apagar da sua memória o investimento infrutífero com o menaço pé-rapado. Este por sua vez, sempre que a encontra tenta novamente a sua sorte, mas sem sucesso, pois ele não se coaduna com as pretensões da lojista.
Com o avançar da idade, a lojista resigna-se de que nunca irá atingir o seu El-Dorado e começa a pensar:- Mais vale um pássaro na mão que dois a voar!
Então, começa a ver com outros olhos outro “target” - os Totós e os menaços pé-rapados. Com os menaços pé-rapadados a lojista já sabe o que é que a casa gasta, mas com os totós a conversa já é outra. Elas já os conhecem de ginjeira, são os tipos na discoteca que estão sempre com o mesmo copo durante toda a noite (para não ultrapassarem o consumo mínimo obrigatório) e que se babam a ver as gajas da “Disconight”. O totó é um falhado e virgem até idade avançada, não os tendo no sítio para abordar alguém do sexo feminino. Para a lojista, é uma presa fácil, tendo a vantagem de o puder manipular a 300%, pois o totó tem a lojista como uma deusa e teme afugentá-la caso não lhe faça as vontadinhas.
O totó só consegue descortinar a realidade da lojista quando já é tarde; quando ela engravida e o obriga ao consequente casório ou mesmo quando ela já o espremeu até ao limite e o troca por outro totó mais endinheirado. No caso de final feliz com o totó, a lojista prossegue a sua vidinha tendo a sua ninhada de rebentos e visitando o seu local de culto ao fim-de-semana (o shopping), pois a partir do momento em que se casa ela deixa de trabalhar para depender completamente do totó.
Mas nem tudo é desgraça! Existem as que realmente sacam as presas endinheiradas, há tanto tempo perseguidas. Aí têm o que sempre quiseram, dinheiro, roupas, jóias, carros, etc… Tudo, obviamente, à conta da presa. Quando vão anunciar as suas pretensões aos progenitores, a cena é repetitiva de norte a sul, de este a oeste, por onde haja lojas.
- Pai, mãe, vou-me casar!- Mas tu não nos tinhas dito que tinhas noivo!!!!!- Pois é, é recente e estou muito feliz.- Então se tu estás feliz, não nos oporemos. Mas diz-me, ele respeita-te e trata-te bem?- Sim sim, papá. Ele dá-me muitas jóias e paga-me muitos jantares em sítios finos….